Em seminário em São Paulo,  quinta-feira (10), o especialista em criptomoedas Rudá Pellini, fundador da Wise&Trust, startup que desenvolve Inteligência Artificial para a gestão de ativos, afirmou que a desinformação acompanha esse tipo de moeda desde seu início, em 2009. Ele rebate a acusação de que bitcoins e similares são usados para esconder recursos de grupos criminosos e diz que a ignorância da população explica os inúmeros golpes.

Sim, há riscos nesse tipo de aplicação, mas eles são menores do que o de vários outros investimentos, observa. E, não, esses ativos não devem desaparecer. “Eu acredito que, no futuro, o consumidor terá a opção de escolher que moeda ele quer utilizar”, disse Pellini no evento organizado pelo divulgador de notícias Dino, na zona oeste de São Paulo.  

“Não se cansam de matar o bitcoin, mas ele está vivo.” Para ele, a grande valorização ocorrida em 2017, quando alcançou a cotação de quase US$ 20 mil, ajudou a alimentar inúmeros prognósticos de que a criptomoeda era uma bolha prestes a estourar. “Caiu para US$ 3 mil em 2018 e já voltou a subir.” Atualmente, está por volta de US$ 8.500.

Emergências

Ele não vê razão para associar o bitcoin a grupos criminosos, justificando que não é possível lavar dinheiro ou omitir patrimônio com as transações porque as polícias e serviços de inteligência têm como rastrear as operações. Pellini inclusive dá cursos a agentes treinando-os para esse serviço.

Citou ainda que o conceito de ativos digitais é a solução para povos em situações emergenciais. “As criptomoedas estão salvando os venezuelanos”, afirmou.

A busca por esse tipo de investimento dribla dois perigos da economia da Venezuela: riscos ao futuro das famílias e falta de dinheiro para consumo imediato. “As pessoas conseguem resguardar seus patrimônios, lembrando que há no país confisco de ouros e joias da população, e, ao mesmo tempo, utilizam o bitcoin em estabelecimentos que o aceitam.”

Outra emergência ocorreu nesta semana em Hong Kong, às voltas com protestos contra o governo chinês. “Como não havia mais dólares nos caixas eletrônicos, houve a maior negociação de criptomoedas da história do território em um dia.”

História

O bitcoin entrou no mercado mundial em 2009 após a grande crise econômica iniciada nos Estados Unidos. O fato de o governo americano colocar dinheiro para salvar os bancos fez a população pagar para corrigir um problema do qual ela não era culpada, e isso motivou gênios em programação a criarem um sistema financeiro autônomo, que se autorregula e com suas próprias lógicas, independente de poderes centrais.

O empresário explicou curiosidades técnicas sobre o sistema. Mais do que tornar-se uma moeda que ninguém vê e mesmo assim ter valor aceito, um dos principais méritos da criptomoeda foi o de evitar o que ele chama de “gasto duplo”, que seria o risco de uma pessoa usar o mesmo “dinheiro” para fazer duas, três ou mais operações. Em outras palavras, desenvolveu uma forma de provar que o seu saldo na conta é limitado e só pode ser utilizado uma vez. Sem o controle de um banco ou de qualquer poder central.

Como se faz isso? Tornando as negociações públicas e acessíveis, por meio da estrutura blockhain (cadeia de blocos), na qual todo mundo enxerga todas as movimentações e pode, assim, apontar as irregularidades.

Rudá Pellini diz que a possibilidade de burlar o sistema é pequena, afinal, por causa da estrutura blockhain, seria necessária a aceitação de toda a rede, o que seria impossível. Mas advertiu que, por ser tão grande a falta de informações dos brasileiros, multiplicam-se os golpes de empresas e pessoas mal-intencionadas.

Dicas contra falcatruas

“É muito fácil evitar os golpes, mas muitas vezes as pessoas não fazem o básico para se precaver”, contou. Ele sugere a quem receber uma sugestão ou oferta de “investimento imperdível”, com ganhos muito acima do mercado, que busque na internet informações sobre a empresa e sobre o executivo que está tentando te vender aquela “oportunidade”. “São sempre sujeitos que estão no terceiro ou quarto golpe e já são conhecidos.”

Outra dica é buscar o registro da suposta corretora na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “É preciso autorização para operar, e esses grupos que praticam as pirâmides não têm.”

E não acredite em histórias bem contadas de milionários que começaram investindo em criptomoedas. “No Brasil até hoje se cai no golpe do bilhete premiado, então há um terreno fértil para esses aproveitadores”, analisou.

Pellini brinca que se há um traço comum nos golpistas é o da ostentação nas redes sociais. “Você não vai ver o Warren Buffet posando com um carrão no Facebook.”

*R7